terça-feira, 17 de julho de 2012

POEMA DO REENCONTRO



À primeira vista achei semelhante
E vi que já era a segunda
Vez, que de mim a vi diante
Tão linda numa humildade profunda
E um olhar tão sereno, como o diamante
Azuis, lapidados, a alma fecunda
Como se estivesse ali um novo tema
E assim, a reencontrei num poema.

Seu corpo escultural cheio de vida
Entrelaçados na sua idade com frescor
Fez-me descobrir que nutrida
De amor, estavas ainda em seu vigor
Pois, a juventude de outrora já amadurecida
A fez mulher e lhe deu mais pudor
E na lembrança, dela o que mais fascina
É a sua face inocente de menina.

Comparando cada passo, reparei na silhueta
Que o vestido longo e bem comportado
Ostentava a sua beleza desde antes ninfeta.
Hoje, quando a vi, eu, tão calejado
Da solidão, minha mais nova faceta
De poeta, do primeiro amor enamorado.
A saudade, a perda, a dor da separação
Em seus braços entorpeceu a ferida do coração.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

2012: CENTENÁRIO DO REI DO BAIÃO


DE PAI PARA FILHO: Desde 1912...
                                                         F. J. Hora
Numa sexta-feira treze,
Vejam só que ironia
Exatamente naquele dia
Pernambuco foi premiado,
Na divisa do estado
No sertão, céu lindo e azul,
Na fazenda Caiçara
No sopé da Serra do Araripe
No município de Exu.

“Nasceu, e é menino macho”
Vejam os documentos dele:
Luiz por ser de Santa Luzia
Gonzaga porque o padre disse
E Nascimento por Jesus Cristo
Esse era seu nome de pia!

Januário, pai de nove irmãos
Tocando e consertando
Depois da roça, o acordeão,
“Oito baixos” respeitado
Em festa tradicional.
Luiz, aos oito de idade
Na falta do “principal”
Tocou e cantou a noite inteira
Sendo essa a primeira
De uma missão especial.

A convites de amigos do pai
Animou festas e sambas...
Luiz de Januário, “Lula”,
Luiz Gonzaga, antes dos dezesseis,
Foi se tornando o melhor
Da sua redondeza
Cana Brava, Viração, Rancharia, Bodocó...!

Em vinte e nove, já escoteiro
O “neguinho afiotado”
Não era mais menino
Viu-se já apaixonado
Por Nazarena, da região
Filha do Coronel Deolindo...

“Tocador de meia-tigela”
Em reprovação disse o pai dela
E Santana, mãe de Luiz, por desgosto
Deu-lhe uma surra e, no outro dia
Ele foge para Crato
Sem dar notícia à família.

Dezoito anos incompletos
Entra nas forças da Revolução
O soldado “Gonzaga”, corneteiro
Ganhou fama no Exército Brasileiro
E assim seguiu seu passo
Em missão para Belém e outros estados
Com o apelido de “Bico de aço”.

Nove anos depois, por aventura
Dá baixa no Exército
E em São Paulo a sanfona branca
Dá início à sua carreira
E na beira do caz, dos estrangeiros
Inspirado no Rio de Janeiro
Foi um calouro de primeira.

Em 1946, explodiu sua carreira
Em disparada com Humberto Teixeira
Domingos Ambrósio e outros parceiros
Relembrando seu pé de serra
E cheio de cartaz voltou à sua terra
Num reencontro emocionado
Tocou baião, xote e xaxado
E sua música “Dança Mariquinha”;
Registrou também o filho de Odaléia
Seu eterno varão Gonzaguinha.


Já no auge do reinado
No Grande Oriente do Brasil
Foi Paranapuan, da acácia amarela
Flor linda e tão bela
Símbolo da Grande Iniciação
E é por isso que até hoje
Ainda é Rei do Baião.

E assim, de pai para filho
Com a música veio a união
E a fortuna de sua realeza
Que ao destino não engana,
Foi no Hospital Santa Joana
Que debilitado, mas devoto
Com pneumonia e fraco dos ossos
Luiz disse adeus...!

Um adeus forte e cantado
Como um aboio saudoso
Lula, Luiz Gonzaga, Gonzagão
Ser artista do Nordeste foi seu sonho
Desde 1912 inaugurado
Mais do que um nordestino, coroado
Luiz, Rei do Sertão!